quinta-feira, 1 de julho de 2010

Texto trabalhado com as 6ª séries na aula de História

A Pátria das TouradasNas arenas lotadas, há muito mais que violência e crueldade. A disputa entre touro e toureiro tem tradições milenares que se confundem com as próprias raízes da Espanha.




Apesar dos protestos dos grupos que defendem os animais, as touradas sobrevivem como uma das mais controversas manifestações populares do mundo. Presentes em diversos países, na Espanha elas ganharam um destaque incomparável. Lá, estima-se que cerca de 6 mil touros sejam mortos em cada temporada, que dura de março a outubro. Segundo José Ortega y Gasset, um dos principais filósofos espanhóis, morto em 1955, não dá para entender a história da Espanha sem as corridas de touros. ”Essa festa tem feito os espanhóis felizes há muito tempo, embebido suas conversas e sua vida”, escreveu ele no livro La Caza y los Toros.
Durante séculos, todos pareciam ter certeza quanto às origens das touradas, que teriam sido levadas à Espanha pelos muçulmanos no século VIII. Mas pesquisas com textos medievais mostram que os próprios árabes só tiveram contato com os jogos taurinos ao chegarem à península ibérica (onde fica Portugal e Espanha). Sabe-se que os jogos envolvendo touros existem desde o século 16 a.C, como revela a cena de um afresco encontrado na ilha de Creta que mostra jovens agarrando os chifres desses animais. Na região da Espanha, os primeiros a lutar com touros teriam sido povos da época do Império Romano. Relatos romanos do fim da era pré-cristã descrevem rituais em que guerreiros enfrentavam touros selvagens.
Após o fim do Império Romano do Ocidente, no século V, os visigodos ocuparam a Espanha. E no que diz respeito aos jogos com touros, fizeram jus ao apelido de “bárbaros”. Em vez de se contentar em golpear o bicho com objetos cortantes, eles se jogavam sobre o touro, que normalmente já estava ferido, para imobilizá-lo e sufocá-lo com as próprias mãos (essa lutas corpo a corpo ainda existem fora da Espanha, nas touradas portuguesas). Com a invasão dos muçulmanos, vindos da região africana do Magreb em 711, os costumes na Espanha sofreram uma reviravolta – que incluiu uma inovação no mundo das touradas. Conhecidos por sua habilidade na arte de montar, os magrebinos deram aos cavaleiros o papel central nos jogos dos touros. Eles matavam o animal com lanças, apoiados por auxiliares que, a pé, cercavam os animais.
A partir do século XII, anfiteatros de cidades como Sevilha viraram palcos de concursos em que cavaleiros armados com lanças competiam entre si para ver quem matava touros com maior eficiência. Nas cidades em que não haviam locais apropriados, o jogos se realizavam nas grandes praças públicas, daí a expressão usada até hoje: “praça de touros”. Durante os séculos XII e XIII, os cristãos da península Ibérica se empenharam em expulsar os mouros. Mas, entre os muitos traços deixados pelos árabes, ficou o gosto pelas touradas a cavalo.
No século XVII, os nobres que se destacavam nas touradas eram convidados a se exibir fora de seus domínios. Mas, muitas vezes, quem roubava a cena com coragem e destreza eram seus auxiliares. Plebeus, lutavam a pé, usavam capas para enganar os animais e passaram a participar mais da morte do touro. Quando os Bourbon, de origem francesa, subiram ao poder na Espanha, em 1700, a participação em touradas começou a ser vista como algo impróprio para a aristocracia. Enquanto a corte se deleitava com hábitos afrancesados, homens comuns viraram protagonistas das corridas de touros. Joaquín Rodríguez, o Costillares, nascido em 1729, trabalhava num matadouro e foi pioneiro no modo de manusear a capa – e nas roupas bordadas e enfeitadas.
No início do século XIX, o rei Carlos IV resolveu proibir todos os festejos com touros. As touradas voltaram com força total no início do século XX. As disputas entre os matadores José Gomez Ortega e Juan Belmonte marcaram a chamada “Idade do Ouro” das touradas. Com o fim da Guerra Civil Espanhola (1936 – 1939), surgiu aquele que para muitos foi o maior toureiro de todos os tempos: Manuel Rodríguez, o Manolete. Hábil e destemido, foi morto por um touro em 1947.

Adaptado da Revista Aventuras na História, Dezembro de 2006.

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