A língua portuguesa e a fala carioca – Havia muita diferença entre o modo de falar dos portugueses e dos brasileiros. O império dividia-se numa sucessão de falares distintos. Além disso, os escravos falavam as línguas africanas. Nessa época, o modo de falar dos habitantes do Rio de Janeiro começa a difundir-se para todo o país.
A música – Flauta, rabeca e violão aparecem como instrumentos musicais mais comuns no país até o início do século XIX. Os ritmos afro-brasileiros, como o lundu, predominavam, tendo por instrumentos as marimbas, agogôs e tambores. A partir de 1850, com o aumento das importações de pianos, eles se tornam objeto de desejo das famílias ricas. Comprando um piano, as famílias introduziam um móvel novo na casa (sobrado urbano ou sede de fazendas) e inauguravam um novo espaço: o salão. Nesse espaço, a vida familiar se tornará visível para observadores selecionados, através de bailes, saraus e serões musicais.
Carnaval – Nos bailes públicos e privados dançava-se a cachuca, dança andaluza que fez sucesso na primeira metade do século XIX, assim como o lundu. Depois veio a polca, o fandando, a valsa, a quadrilha e o schottisch, mais tarde conhecido como xote. A partir dos anos 1870 aparece o maxixe. No carnaval, houve a separação da festa de rua, o entrudo popular e negro (apesar da origem portuguesa), da festa de salão, dos brancos – o carnaval. Os bailes eram considerados mais civilizados, mais europeus e menos perigosos a saúde, pois no entrudo, além dos limões-de-cheiro, havia o risco de se receber na cabeça o conteúdo de penicos dos sobrados e as pauladas dos capoeiristas. Surgiram também os desfiles de carros alegóricos, no estilo do carnaval europeu.
Nacionalismo – Além das ações violentas contra o domínio português, o nacionalismo brasileiro desenvolveu comportamentos que tinham significados públicos de afirmação da identidade nacional. Cipriano Barata, deputado baiano que lutou pela independência do Brasil, só usava roupas tecidas em algodão brasileiro. No romance “A Moreninha”, escrito por Joaquim Manoel de Macedo, Carolina advertia seu namorado que fumasse apenas charutos brasileiros, e não cubanos, “porque isso era falta de patriotismo”.
Mucamas – A utilização das amas-de-leite era uma prática comum no Brasil Império. O aluguel de amas-de-leite representava uma atividade econômica importante nas cidades. Mukama é uma palavra do idioma quimbundo, que referia-se a escravos domésticos de ambos os sexos. No Brasil colonial passam a se chamar mucamas as escravas destinadas ao trabalho doméstico e ao aleitamento dos filhos dos senhores. Nas décadas de 1820 e 1830 encontram-se anúncios de jornal como: “aluga-se escrava ama-de-leite, parida a um mês e sem filho”. Após os debates europeus sobre as vantagens do aleitamento materno, o costume das amas-de-leite vai desaparecendo.
As cidades e as doenças - “Cupim, mofo e insetos, pululando em muito maior quantidade e variedade do que na Europa, atacavam os móveis, os livros, as roupas e os homens. Disseminadas pela mosquitada e as chuvas de verão, as febres alastravam-se pelo centro do Rio de Janeiro, já bastante povoado e com poços contaminados. A falta de água potável era um problema crônico na cidade, obrigando as autoridades a construírem o aqueduto da Lapa. Com o verão, tudo piorava, na ausência de uma rede de esgotos que só começa a ser construída no início dos anos 1860. Até esta data, e mesmo depois dela, os escravos encarregados de levar os dejetos domésticos até as praias, e por isso chamados “tigres” (muito provavelmente por causa da cor tigrada com que a matéria fecal sujava o seu corpo), continuavam ativos na cidade.” (Luiz Felipe de Alencastro – História da Vida Privada no Brasil).
Medo do Parto - Num contexto de muitas mortes causadas por doenças como cólera e a varíola, haviam dois grandes grupos de risco: os recém nascidos e suas mães. Ambos dependiam do talento das parteiras. Cultos ligados à proteção do parto, como Nossa Senhora do Amparo e do Bom Parto, revelam o medo da morte no momento do nascimento.
Sem sapatos – Fotos da época demonstram que um escravo de ganho (que era remunerado) podia ter meios para vestir calças bem postas, paletó de veludo, portar relógio, usar chapéu e fumar charuto. Mas tinha que andar descalço para deixar exposta a sua condição de cativo. Uma das astúcias dos escravos fugidos era conseguir sapatos e assim, misturar-se aos negros livres que andavam pelas cidades.
Fonte: ALENCASTRO, Luiz Felipe de. A Vida Privada e Ordem Privada no Império. In: NOVAIS, Fernando A. História da Vida Privada no Brasil: Império. São Paulo: Companhia das Letras, 1997.
Nenhum comentário:
Postar um comentário