quinta-feira, 15 de abril de 2010

Dia do Índio: Qual Índio?

No dia 19 de abril as crianças do nosso país realizarão, como todos os anos, atividades escolares alusivas aos índios, na data que lhes é dedicada. Se buscarmos em nossa memória os tempos de escola, sejam eles de que década forem, lembraremos das imagens estilizadas de um índio que já não existe ou que nunca existiu. Assim, é importante pensarmos sobre qual índio estamos falando.


Ao longo da história, os povos indígenas foram tratados, especialmente nos livros didáticos, como um só “índio”. Justamente aquele índio que andava em canoas, usava arco e flecha, vivia sobre a proteção de um pajé, e comia seres humanos. Quanto à indumentária, adotou-se, na estilização desse índio construído didaticamente, a tanga, as pinturas no rosto (feitas facilmente usando dois dedos e tinta guache) e o cocar de pena única. Assim, se generaliza na figura deste índio escolar os mais variados grupos indígenas brasileiros.

Não bastando a visão equivocada do índio como povo único, com características inventadas, os povos indígenas, mesmo os considerados como “Altas Culturas” da América Central (Maias e Astecas), são vistos numa ótica etnocêntrica, que pressupõe o branco “civilizado”, com sua lógica judaico-cristã, como padrão da humanidade. Assim, o índio é sempre o primitivo, o atrasado, o pagão, quando não o selvagem, especialmente nas referências aos indígenas brasileiros.

É nas aulas de História que a visão de um índio carnavalesco se consolida nas mentes infanto-juvenis, especialmente quando se adota um livro didático como única referência bibliográfica. Dessa forma, o índio entra em cena quanto o branco civilizador chega com suas caravelas. É o descobrimento do Brasil. Na seqüência, a 1ª Missa e a catequização. Como o índio é “preguiçoso e indolente”, de acordo com a historiografia tradicional, ele some da história ao não se sujeitar ao trabalho escravo. Só vai reaparecer quando o mesmo livro adota o discurso da formação do povo brasileiro através da “mistura de raças”: o branco, o negro e o índio. Portanto, está mais do que na hora de se abandonar os estereótipos de um índio didático, genérico, primitivo e estilizado, em troca do ensino das culturas, religiosidades e formas de organização social dos povos indígenas.

Bibliografia consultada:

ORTIZ, Renato. Cultura brasileira e identidade nacional. São Paulo: Brasileinse, 1985.
ROCHA, Everardo. Jogos de Espelhos. SP: Brasiliense, 2ª ed., 1997.
TODOROV, Tzvetan: A Conquista da América – a questão do outro. Martins Fontes, Editora. São Paulo, 1988.

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